a traição do Araxá ( continuação)

Catuíra era tão graciosa que nunca falou com uma visita de seus parentes, cara-a-cara: conversava sempre de costas para o interlocutor, o que era sinal de sua antiga nobreza. ainda trazia no tornozelo o xpiça, amarrilho que lhe denunciava a virgindade. e fôra obrigada a se casar, sem amor, com o desenxabido Iboapi!
Agora, Mau, na floresta fugira para não assistira às festas do casamento. Do morro distante, na noite quente ele ouvia, da mata virgem amornada pelo mormaço do ar parado, seus irmãos de raça tocarem os uatapis, chamando os ventos. as vozes roucas das buzinas de chifres acordavam os ecos nas grotas e assustavam o silêncio da floresta.
No outro dia, ao descer para a aguada, percebeu tropel de cavalos (...)era um troço de dragões do 1º regimento de Cavalaria do Rio das Mortes, que ocupava a terra dos Araxás. Comandava-o o capitão de campo Inácio Correia Pamplona, homem corajoso, cumprindo missão do Capitão-General Governador das Minas Gerais.
Quando passavam por um capãp grosso na barriga da Serra das Alpercatas, um praça viu alguém:
_ Bugre!!!
_(...) Prenda o negro!
_Apalpe o bugre
_ Pergunte o nome!
_Mau!
_ Seu chefe está nervoso com os brancos?
_ (...) Capitão Grande está brabo!
_ Pergunte se me quer levar para atacar a tribo.
_ Sim!
Indague se tem respeito pelo chefe da aldeia>
_ raiva!
Inquira se tem medo dele.
_ Não!
_ Pergunte quem é ele?
_ Guerreiro valoroso!
Pamplona esperou o começo da tarde para soltar a matilha.(...) Mau segui de perto ao lado do comandante. Seu rosto frio, de máscara impassível, dizia que ele estava deliberado a extinguir, de uma vez por todas toda a sua raça.
Na matança tombaram fulmindaos pelos clavinotes reinóis o acatado andaia Bambuí, Catuíra e Iboapi. Morreram quase todos os índios, da carnagem pouco sobrou.
À noite, no topo do Morro da Mesa, foi em vão que uma inúbia triste conclamou os até então invictos guerreiros. A tribo estava extinta. Ninguém respondia com outra inúbia ao chamado geral.

VASCONCELOS, Agripa. A Vida em Flor de D. Beja. Itatiaia. São Paulo. 1986 p 15 - 17

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